Sofro.
Sofro sim.
Sofro sim.
Sofro muito.
Mas meu sofrimento...
O meu sofrimento é mera e unicamente corporal.
Meus braços queixam-se, compreensivelmente, por ser movimentados para outra
atividade que não seja segurar-te. Abraçar-te.
Minhas mãos e os meus dedos estão profundamente frustrados por não poderem
contornar, estudando, demoradamente, cada linha harmoniosa do teu gracioso
rosto.
As minhas pernas e os meus pés estão revoltados, pois minhas caminhadas já não mais os levam até ti. E deixaram claro que por mais distante, árduo e sôfrego que
seja o trajeto, o completariam com prazer para realizarem este nosso
reencontro.
O meu peito clama, dolorosamente, todas as santas noites insones, pelo recostar
e repousar da tua cabeça. Espera poder novamente aninhar-te.
Os meus cabelos, pobres coitados, exigem, ao menos uma vez mais a delícia de
por ti serem tocados, percorridos e alisados.
Meus ouvidos se entristecem somente em rememorar o fato de que já não irão
mais ouvir a tua doce voz, que a eles tão bem fazia.
Meu nariz fareja, constantemente, onde quer que esteja, na esperança vã de
captar um resquício da tua acalentadora fragrância natural. Do teu maravilhoso
perfume.
Os meus olhos... Ah, os meus olhos! De tão fiéis a ti, fizeram greve por tempo
indeterminado. Alegando causa inegociável, eles se recusam a abrir, a não ser
que seja na tua presença. Choram inesperada e constantemente a tua ausência.
Os meus lábios movimentam-se sem vontade, certos de que as minhas palavras não
chegarão até você. E não são raras as vezes em que os flagro pronunciando,
baixinho, com saudades, o teu belo nome.
O meu cérebro, dono de uma memória infalível, insiste em me levar em um passeio
nostálgico pelos momentos maravilhosos que contigo compartilhei. Nele, só
existe você, você e você. Trata-se de um espaço, de um altar, de pureza,
tributo e adoração eternos.
E o meu coração... O meu coração, no cumprimento leal das obrigações de suas
funções, bate fraco, descompassado, triste. Repleto de amor, não quer ser
entregue a outra pessoa que não seja a você.
Continho anteriormente publicado no Recanto das Letras