Vendo que nenhuma de suas relações tinha vida longa,
Mateus foi pedir conselhos amorosos ao velho tio Leocádio. O irmão de seu
falecido pai fora casado por quase cinco décadas. O que impedira aquela união
de completar bodas de ouro foi a morte da esposa. Mateus ainda lembrava-se da
tia. Era uma boa mulher.
-Não consigo entender isso chamado amor, tio. – Queixou-se o sobrinho.
-O amor é o sentimento mais conflituoso que
existe. Não se deve tentar compreendê-lo – Explicava o idoso - mas sim aprender
com cada nova experiência e descoberta. O amor é composto por companheirismo,
confiança e fidelidade e exige compreensão, devoção e sacrifício. Enquanto não
estiver preparado para isto tudo, não estará pronto para amar.
-Que bonito tio – Mateus estava admirado com
as palavras de Leocádio – Posso ter errado, e feio, nas minhas relações, mas sempre
enfrentei um problema: O senhor sabe quando o amor vai morrendo aos poucos...?
-O amor não é algo que nasce e pode
simplesmente apagar-se ou morrer. Ele é mais forte que tudo o que há. É a
representação da vida e persistirá enquanto houver uma única chama ardendo ou
enquanto respirar nem que seja somente uma
das partes envolvidas. Sinto te dizer que as experiências que você teve não
envolviam amor. Paixão, talvez.
-Paixão...
-Sim... A paixão, ao contrário do doce
sentimento chamado amor, dá frutos amargos e costuma ser avassaladora. Trata-se
de uma droga, um vício, que te transforma, prende, viola, escraviza, corrói...
Disseminada pelo anjo caído, é uma das grandes tentações e perdições da vida
terrena.
-Como distinguir amor de paixão?
-Quando o teu corpo pedir loucamente a presença de uma pessoa e você se sentir
preso a ela, acredite: Você está apaixonado. Mas quando o teu coração pedir alguém incessantemente e nada nem ninguém for capaz de aplacar ou substituir esta presença, acredite:
Você a ama.
-Então foi paixão mesmo – Mateus ficou
cabisbaixo - Ao menor sinal de problema, sempre desisti das minhas relações.
Mas... Um verdadeiro amor... Quem em sã consciência não lutaria por ele?
-Agora você está começando a entender –
Leocádio sorriu.
-Outro problema que sempre enfrentei, tio, foi
não conseguir demonstrar os meus sentimentos.
-Bem, isto é questão de ser humilde e abrir o
coração. Se for o caso, provar o que alega. Mas veja bem: Uma prova de amor não
precisa ser uma obra de grande suntuosidade, mas tem que ser, indubitavelmente,
uma obra de sinceridade.
-Tio, qual o grande segredo do amor?
-Não dê ouvidos e não se deixe influenciar por
este mundo egoísta no qual vivemos,
repleto de pessoas egoístas com as quais convivemos:
Para provar do amor, deve-se amar mais ao outro do que a
si próprio.
Mateus agradeceu e partiu. Enquanto se
afastava da casa de Leocádio, o rapaz pensou:
-“Amar mais ao outro do que a si próprio”? Mas
é um velho trouxa mesmo!
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